21/06/2008

Ô ô ô, a Mangueira chegou, ô ô

Não sou carioca. Sou paulista de coração, mas admiro o Rio de Janeiro. O Carnaval não é e nunca foi uma das minhas paixões. Porém, acho que nada tira o brilho de uma escola de samba desfilar pela avenida. O trabalho de milhares de pessoas, que riram, choraram, se empenharam e olham o trabalho de quase um ano na avenida sendo aplaudido pelo público de pé com as bandeiras na arquibancada.
Não não...este texto não é uma micareta em forma de caracteres. É muito mais que isso. Enquanto há 100 anos nascia Cartola, em 2008, José Bispo, mais conhecido como “Jamelão” nos deixa com seus sambas e uma história completa na Estação Primeira de Mangueira. Jamelão foi marca registrada da “verde e rosa” carioca, por sua maneira de conduzir a escola e também por criar polêmicas, mas que em comparação aos escândalos políticos da atualidade não são nada próximo ao que ele representava para o Carnaval brasileiro e não somente para o Rio de Janeiro. Jamelão não quer ser homenageado. E esse não é meu objetivo. De maneira nenhuma escrevo textos para prestar homenagens a outras pessoas. Redijo textos porque gosto de treinar minha escrita cada vez mais e estar mais próximos de acontecimentos que não são tão comuns de comentários.


Chora, disfarça e chora
Aproveita a voz do lamento
Que já vem a aurora
A pessoa que tanto queria
Antes mesmo de raiar o dia
Deixou o ensaio por outra
Oh! triste senhora
Disfarça e chora
Todo o pranto tem hora
E eu vejo seu pranto cair
No momento mais certo
Olhar, gostar só de longe
Não faz ninguém chegar perto
E o seu pranto oh! Triste senhora
Vai molhar o deserto
Disfarça e chora

Assim como Jamelão, Cartola (Angenor de Oliveira) é um mestre em compor músicas. Ele, que neste ano comemoramos o centenário de nascimento, ajudou a escrever uma das que mais gosto da MPB, que é “Disfarça e Chora”. Conheci a canção pela voz marcante de Zélia Duncan, ao lançar pelo selo da “Duncan Discos”, o álbum “Eu me transformo em outras”, título atribuído a canção “Quem canta seus males espanta”, do incrível Itamar Assumpção.
É uma maneira apaixonante que pode ter múltiplas interpretações dependendo do ângulo em que se analisa. Um amor não correspondido, um amor que não deu certo, uma traição, tristeza, mágoa e outros sentimentos.
Nossos melhores compositores estão indo embora, nos deixando um legado de histórias, trajetórias em que muitos não tiveram sorte, além de canções imortalizadas. Na literatura e no jornalismo também. Devemos nos inspirar em exemplos como Jamelão e Cartola para ouvir cada vez mais qualidade do que simplesmente fica com o que é “descartável”.

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